terça-feira, 8 de março de 2011

Quando não é adequado indicar o norte no mapa

Um olhar convencional sobre a cartografia tem o hábito de nos alertar: - é preciso não se esquecer de indicar a orientação do mapa, não se deve omitir o Norte. Porém, a representação do Norte é inútil nos mapas temáticos de pequena escala, que representam vastas extensões territoriais. Nesses o leitor é capaz de identificar os espaços representados. Além dessa questão há outra: qual o Norte a ser indicado? Sabemos que existem “vários Nortes”: norte geográfico, norte magnético...
Por convenção, o Norte é no “alto” do mapa, mas isso não é uma regra absoluta. Vamos tratar alguns exemplos.
A projeção Mercator é uma projeção cilíndrica, cuja grade de coordenadas geográficas (paralelos e meridianos) dispõe as linhas que se cruzam de forma perpendicular. Logo qualquer meridiano dirige-se ao Norte, ao pólo norte, que nessa projeção foi transformado numa linha contínua (vide mapa abaixo).

(Fonte: Atelier de Cartographie da Sciences PO)


Já na projeção Bertin (1950), que mantém uma relação de fidelidade com as superfícies dos continentes, a grade de coordenadas não possui uma configuração perpendicular, pois todos os meridianos se dirigem, formando curvas, para uma representação do pólo que se encontra no meio do mapa. Logo, para indicar o Norte seria preciso colocar tantas setas quantos fosse o número de meridianos (vide mapa abaixo), o que é desnecessário visto a clareza da posição polar.

(Fonte: Atelier de Cartographie da Sciences PO)


Outra representação (aliás, muito interessante para representar fenômenos que possuem escala mundial - em especial os fluxos e redes), que é a de Buckminster Fuller, dispensa a indicação do Norte, pois esse já é centro do mapa. Trata-se de uma projeção cuja centragem é no pólo norte (as centragens podem variar) e que favorece a manutenção das formas e das proporcionalidades das terras emersas em detrimento dos oceanos. Quando esse autor criou essa projeção ele subverteu a visão convencional de um Norte e de um Sul, o que permitiria uma apreensão de um mundo “menos” hierarquizado (vide terceiro mapa).


(Fonte: Atelier de Cartographie da Sciences PO)
Esses poucos exemplos (seriam possíveis vários) mostram que nem sempre é pertinente indicar um único Norte, numa única posição. Aliás, nem sempre é adequado indicar o Norte num mapa.

Fonte: http://jaimeoliva.blogspot.com

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